segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Manuel Bandeira : Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo incosenqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’agua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de seu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Alguém dá a minha velha vida de volta? Preciso dela. Cansei desta. Ou a de antes volta, ou eu acho uma nova.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Diálogo

- A gente não pode mais se ver.
- Por quê?
- Eu to ficando cada vez mais confuso, não sei mais de quem eu gosto.
- Não é de mim?
- Esse é o problema.
- Devia ter dito antes.
- Não! Eu gosto de ti, muito! O problema é que não gosto mais das outras.
- Isso não é problema, é? Qual é o problema?
- A gente não pode ficar junto, vai estragar tudo. Já tá estragando.
- Eu não to te entendendo...
- Eu achei que não ía. Tu não percebe que a gente nem encaixa?
- Quê?
- Deixa pra lá... Preciso que tu vá embora. Preciso das outras.
- Só eu não sirvo?
- Só tu não vai servir, eu me conheço, daqui a pouco eu vou deixar de gostar de ti também. É isso que quero evitar.
- Agora quem tá confusa sou eu.
- Tá, vamos fazer como eu disse: terminar antes que comece.